Um país de empreendedores, mas que ainda patina na economia
Estudo da Mckinsey e Brazil at Silicon Valley sobre a economia digital brasileira mostra que o Brasil possui grandes desafios para se tornar um polo do empreendedorismo de alto impacto
É possível dizer que o jeitinho brasileiro –no sentido positivo –também contempla o empreendedorismo?
Se observamos os números, é possível sim. De acordo com a primeira edição do estudo Brazil Digital Report, conduzido pela consultoria McKinsey em parceria com a Brazil at Silicon Valley, 39% da população brasileira economicamente ativa, entre 18 e 64 anos, possui uma empresa.
O lado não favorável dessa história é que grande parte desse contingente de empreendedores optou por ter seus próprios negócios devido à necessidade –e não por oportunidade.
Entre os emprendedores levantados pelo estudo, trabalhadores por conta própria somam 26%; empregados domésticos 7%; empregadores 5% e 2% atuam em negócios familiares.
Os modelos de negócios mais comuns são restaurantes (14%), loja de vestuário (9%), serviços de refeições (7%), mecânica automotiva (7%), salão de beleza (5%), lanchonetes (5%) e venda de cosméticos (3%).
De 2005 a 2015, a quantidade de empreendedores cresceu 18 pontos percentuais.
Quando analisamos o perfil típico do empreendedor brasileiro, quem emerge é uma mulher, abaixo dos 34 anos, classe média baixa, com ensino médio.
Vale lembrar que, entre 2001 e 2015, o número de lares chefiados por mulheres mais do que dobrou. Hoje, elas são responsáveis pela geração de renda e decisões de consumo de quase 30 milhões de lares – o que representa 40% do total brasileiro, de acordo com o IBGE.
Embora os dados revelem uma melhora nas relações de gênero, ainda há grandes desafios a serem superados. Entre eles se destacam igualdade salarial e uma divisão mais justa dos afazeres domésticos, uma vez que elas ainda ganham menos do que homens e passam mais horas da semana cuidando da casa e dos filhos.
NECESSIDADE E OPORTUNIDADE
Quando falamos de empreendedorismo, entender a segmentação entre “necessidade” e “oportunidade” faz toda a diferença. A motivação para abrir um negócio demonstra o grau de desenvolvimento econômico e maturidade social de um país.
Empreendedor por necessidade inicia um negócio por não possuir melhores opções de trabalho. Dessa forma, empreende na cara e na coragem para sustentar a si próprio e sua família.
Já o empreendedorismo por oportunidade acontece quando é identificado uma demanda real de mercado, que um novo negócio pode satisfazer.
Neste caso, o empreendedor, geralmente, possui maior nível de capacitação e escolaridade e a empresa tende a ter mais impacto na geração de emprego e no crescimento econômico do país.
É comum que o emprendedorismo por necessidade cresça em épocas de alto desemprego.
Nos últimos anos, período em que o Brasil atravessou momentos de crise que reverberam até hoje, houve uma explosão de profissionais que trabalham por conta própria em serviços por aplicativos, por exemplo. Hoje, Uber, iFood e Rappi somam 3,8 milhões de trabalhadores autônomos.
Se esses trabalhadores fossem reunidos numa mesma folha de pagamento, o montante seria 35 vezes maior do que o quadro de pessoal dos Correios, que possui 109 mil funcionários e é a maior empregadora estatal do Brasil.
Por outro lado, ano passado, com a leve melhora no emprego, o empreendedorismo de oportunidade passou de 56%, em 2015, para 61%.
OBSTÁCULOS PARA O EMPREENDEDORISMO DE ALTO IMPACTO
Há diversos fatores que freiam o empreendedorismo de oportunidade -entre eles se destacam o baixo nível de capacitação e o difícil ambiente de negócios do país, que é burocrático e sem grandes facilidades para o micro e pequeno empresário, como acesso a crédito e agilidade na abertura de negócios.
No ranking de países com ambiente propício para negócios, o Brasil amarga a 109º posição. Estados Unidos figura em 8º, França em 32º, China em 46º e o nosso vizinho Chile em 56º.
O panorama faz com que dois terços dos novos negócios fechem em menos de cinco anos. Entre as razões para o colapso estão a falta de clientes (16%), falta de capital (16%), falta de conhecimento (12%), impostos (10%) e burocracia (4%), entre outros.
O baixo investimento em pesquisa e inovação do país também é um empecilho. O Brasil investe apenas 1,3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Nos Estados Unidos a taxa é de 2,7%; França 2,2%, China 2,1% e Chile 0,4%.
O resultado do contingenciamento de recursos impacta diretamente no índice de inovação do país. No ranking apresentado no estudo da Mckinsey, o Brasil está em 64º lugar –atrás até mesmo do Chile, que investe menos, mas demonstra resultados melhores, ocupando o 47º.
Fonte: Diário do Comércio
Por: Italo Rufino
Imagem: Pixabay