Por que inclusão e diversidade são hoje um dever social
Além de ser bom para os negócios e gerar competitividade, empresas como a Ikea e Yum Brands estão em busca de igualdade – e o consumidor está de olho nisso
No final do ano passado, a pesquisa País Estagnado: Um Retrato das Desigualdades Brasileiras, divulgada pela organização não-governamental Oxfam Brasil, com base em dados do IBGE, apontou que a diferença salarial entre mulheres e homens aumentou após 23 anos.
O levantamento mostra que, em 2016, as mulheres ganhavam, em média, 72% do que ganhavam os homens. Em 2017, a proporção caiu para 70% – o que sinaliza o primeiro recuo em mais de duas décadas.
O problema da desigualdade salarial entre gêneros não afeta somente as mulheres. Em um recente estudo intitulado Relação entre a discriminação salarial de gêneros e o crescimento do PIB per capita no Brasil, Rafael do Santos, do programa de mestrado do Insper, aponta que a desigualdade impacta a produtividade, a taxa de empregabilidade e a produção nacional.
Uma das justificativas é que um mercado de trabalho que exclui mulheres qualificadas para dar oportunidade a homens menos capacitados deixa de atingir seu máximo potencial.
As discussões sobre gênero estão em alta em todo mundo e chegou a um debate na NRF, convenção mundial de varejo, que aconteceu semana passada em Nova York, nos Estados Unidos.
No palco, estavam presentes Shannon Schuyler, diretora de propósitos da PwC; Lars Petersson, presidente da IKEA US; Carolyn Tastad, presidente na América do Norte e patrocinadora executiva de igualdade de gênero da Procter & Gamble; e James Fripp, diretor chefe de diversidade e inclusão da YUM! Brands.
Para Schuyler, abordar questões de diversidade exige que a organização tenha conversas francas no local de trabalho e entenda o poder (e o malefício) do preconceito inconsciente.
Com base nisso, é necessário criar e compartilhar práticas que expliquem a origem e consequência de preconceitos e discriminação.
"A diversidade não é mais uma questão competitiva, ou apenas uma questão de negócios", disse ela. "É uma questão social".
Embora o tema esteja sendo discutido diariamente, com movimentos como o MeToo, que denuncia casos de agressão sexual, Carolyn Tastad lembrou alguns fatos que mostram que o desafio da igualdade está longe de ser superado.
Há menos CEOs mulheres na edição de 2018 da Fortune 500, lista que reúne as maiores empresas americanas, do que na edição de 2017.
De acordo Tastad, isso acontece devido a cinco mitos que envolvem a posição da mulher no mundo corporativo. São eles: mulheres se atraem menos por ciências, tecnologia, engenharia e matemática; elas são menos capazes quando se trata de liderança; há menos mulheres galgando posições de liderança; manter a casa é responsabilidade das mulheres; e assédio sexual é uma “questão das mulheres”.
“Nós não precisamos consertar as mulheres”, afirmou Tastad. “Precisamos consertar o sistema”.
INICIATIVAS
Quando trabalhava na Ikea Japonesa, Petersson conta que de cada 1.000 gerentes, apenas três eram mulheres. Foi quando a liderança da empresa assumiu a responsabilidade de promover a diversidade e inclusão.
“É uma questão de igualdade de direitos”, disse ele.
Para saber o ponto de vista delas, a equipe de Petersson questionou as funcionárias sobre o que tornaria os cargos de gerência mais atraentes.
A resposta foi o equilíbrio entre vida e trabalho e o direito de simplesmente ir para casa no final do dia em vez de serem forçadas a socializar com os chefes após o expediente.
A empresa, então, conduziu um programa para reformular o plano de carreira dos funcionários. Anos mais tarde, 43% dos gerentes da Ikea do Japão eram mulheres.
Na filial americana da Ikea, segundo afirma, o foco tem sido o desenvolvimento de uma política de licença parental, para os funcionários em tempo integral e de meio período.
As iniciativas, ainda que pareçam isoladas em cada país, são uma maneira de sair da inércia e também forçar outras questões, que ainda não tinham sido pensadas, virem à tona.
“O importante é mudar e fazer mudanças”, diz Petersson. “Não focar demais no objetivo final.”
UMA DEMANDA DO PÚBLICO
A Yum Brands é uma holding americana do setor de alimentação que desenvolve, administra e licencia redes de franquias.
Figuram no portifólio da empresa as marcas KFC, Pizza Hut e Taco Bell. A Yum detém cerca de 46 mil restaurantes, emprega 1,5 milhão de funcionários e mantém mais de 2 mil franqueados.
E como defender a diversidade e inclusão numa empresa com tantas ramificações?
De acordo com Fripp, da Yum, o poder de compra da comunicade LGBTQ americana é de US$ 1 trilhão. Além disso, o crescimento dos Estados Unidos virá de uma população multicultural e racialmente miscigenada.
“No futuro, o crescimento dos negócios globais não virá dos Estados Unidos, mas de outros lugares do mundo”, disse Fripp.
Fonte: Diário do Comércio
Por: Italo Rufino