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16/08/2018

Câmaras e consulados ajudam empreendedor a internacionalizar negócio

Por meio de parcerias com players locais ou programas de aceleração, startups brasileiras já atuam em vários países

Um ambiente favorável aos negócios ou a chance de reduzir custos ao atender clientes de uma região – e assim ganhar escala – são alguns fatores que tornam a internacionalização desejável para muitas startups. Para os governos, também é interessante atrair empresas inovadoras para fazer a economia girar, o que explica a oferta crescente de programas de apoio para empreendedores de outros países.

As iniciativas envolvem desde incentivos fiscais e vistos específicos até programas de aceleração de negócios ou missões que levam equipes para conhecer um país – e mostrar por que seria importante para a empresa fincar um pé ali.

De olho nesse movimento, a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) está criando um comitê de internacionalização. "As nossas startups amadureceram muito nos últimos anos e ganhamos visibilidade com os primeiros unicórnios [companhias com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão] aparecendo desde o início do ano", diz Rafael Pinheiro, diretor executivo da entidade. 

Ele aponta cuidados que a startup deve adotar em outros países. "O produto tem que estar muito preparado para a região em que a empresa quer se estabelecer", diz.  

Câmaras de comércio e consulados podem ajudar no processo de internacionalização, especialmente nos aspectos legais. O DCI conversou com representantes de cinco países que contam com áreas de inovação e empreendedorismo nesse âmbito. Há representantes da Europa (Alemanha, França e Portugal), América do Norte (Canadá) e Oriente Médio (Israel). Como também há outros países com iniciativas do tipo, vale a pena para o interessado entrar em contato diretamente com a entidade responsável.

Portugal

Destino de muitos brasileiros em razão do idioma, Portugal aposta em relações bilaterais para apoiar empreendedores dos dois países. Em 2018, lançou o Startup Visa, um visto de residência para equipes que abram empresas inovadoras em Portugal.

Para concorrer, o empreendedor precisa de pré-requisitos como ter um negócio escalável, com potencial para atingir um valor de 350 mil euros em três anos ou um volume de negócios superior a 500 mil euros por ano.

Para fortalecer a política de inovação entre os países, Brasil e Portugal firmaram um acordo, com representantes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Secretaria da Indústria de Portugal. O objetivo é fortalecer a colaboração em iniciativas na indústria 4.0.

Uma das medidas será o lançamento de um edital binacional do Programa Conexão Startup Indústria, atendendo brasileiras e portuguesas. A iniciativa aproxima indústrias que tenham problemas específicos e empresas nascentes dispostas a solucionar esses desafios.

De acordo com o presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, Nuno Rebelo de Sousa, há iniciativas pontuais ao longo do ano, como missões para apresentar os empreendedores a players do ecossistema de inovação português, entre eles fundos de investimento, aceleradoras e até grandes startups locais.

Rebelo diz que a cena empreendedora em Portugal está em crescimento e Lisboa já se encontra como um dos principais polos de inovação no continente. Realizado desde 2016 na capital portuguesa, o Web Summit é um dos principais eventos de tecnologia do mundo e reuniu em 2017 mais de 2 mil startups e quase 60 mil participantes.

 

Realizado desde 2016 em Lisboa, o Web Summit é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo

Realizado em Lisboa, Web Summit é um dos maiores eventos de tecnologia do mundo

 

Em novembro de 2018, até 15 startups brasileiras vão participar do Web Summit por meio do programa StartOut Brasil, iniciativa que teve início neste ano e tem como objetivo ajudar as novatas brasileiras a se internacionalizar. Entre os idealizadores estão a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Segundo Rebelo, Portugal conta com mais de 130 centros de incubação e oferece ajuda aos empreendedores que chegam. “Como existem diferentes polos de acordo com a atuação da empresa, o governo ajuda a procurar o melhor hub e incubadora”, diz.

 

Alemanha

A maior economia da Europa também tem iniciativas para receber empreendedores brasileiros. A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, por exemplo, atua em duas áreas: no departamento internacional e no de inovação e tecnologia.

O internacional cuida do comércio exterior, feiras e ajuda as empresas na internacionalização, ou seja, ajuda os empresários desde a prospecção de clientes até busca de fornecedores.

A área de inovação e tecnologia tem como foco companhias inovadoras e a transferência de conhecimento nesse sentido. “Nos últimos dois anos fizemos três viagens com grupos de empresas e representantes de federações industriais para mostrar in loco como a indústria 4.0 atua na Alemanha”, diz Bruno Vath Zarpellon, diretor de inovação e tecnologia da Câmara.

Zarpellon explica que o departamento de inovação e tecnologia surgiu há seis anos por conta de uma demanda de grandes empresas alemãs, como Basf e Siemens.

Há três anos esse grupo ajudou a desenvolver um desafio de inovação exclusivo para startups. O Startups Connected tem como objetivo aproximar empresas nascentes e as chamadas âncoras, ou seja, as que têm um problema a ser resolvido. O programa oferece uma aceleração por três meses, que pode contar até com visitas a institutos de pesquisas e companhias alemãs.

Embora não tenha a internacionalização como objetivo, esse é um caminho natural para startups que participem da iniciativa. “Algumas estão em fase de abrir escritório na Alemanha”, diz Zarpellon.

O programa Startups Connected aproxima grandes empresas com startups

Startups Connected aproxima grandes empresas com startups e oferece aceleração 

 

Assim como Portugal, a Alemanha oferece benefícios para empreendedores que queiram abrir sede no país. De acordo com o diretor de inovação e tecnologia, a Câmara assessora essas equipes. “A embaixada e o consulado têm atuação direta nesse sentido [de benefícios] e até mesmo algumas universidades alemãs”, explica.

A catarinense TNS é um exemplo das beneficiadas por essa conexão. Ao participar do Startups Connected, a empresa nascente focada em nanotecnologia buscou crescer fora do Brasil. “A aproximação com as multinacionais foi o caminho mais fácil para a gente começar a vender para empresas com unidades na Europa”, diz Gabriel Nunes, diretor administrativo da TNS.

De acordo com o executivo, embora não tenha aberto uma unidade na Alemanha, mas sim na vizinha Áustria, a startup conseguiu entrar na Europa por meio do programa de startups da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.

França

Ao observar a demanda de suas associadas, a Câmara de Comércio França-Brasil criou o programa Prêmio CCIFB Startup. Empreendedores de qualquer segmento podem participar da iniciativa, que terá como prêmio uma aceleração de negócios na França.

Sueli Lartigue, diretora da Câmara de Comércio França-Brasil, conta que esse não é o primeiro programa para startups. Um comitê dedicado a empresas nascentes faz bimestralmente encontros entre empreendedores e companhias francesas.

Embora só uma startup seja premiada no novo programa da Câmara, dez finalistas poderão apresentar seus serviços no 3º Fórum de Startups. Ou seja, mesmo as equipes que não ganharem a competição poderão fechar negócio com as companhias presentes.

O Fórum de Startups acontece desde 2016 e surgiu justamente para ajudar as empresas associadas à Câmara a conhecer as startups e assim se aproximar de inovações.

A Hi Technologies, por exemplo, venceu em 2017 a etapa brasileira de uma competição de startups envolvendo todas as Câmaras de Comércio da França pelo mundo, com direito a participar da final em Paris. Com o auxílio da Câmara, a novata deve iniciar suas operações naquele país em breve.

O Hilab,  leitor de testes rápidos desenvolvido pela Hi Technologies, não precisa de posto de coleta e a infraestrutura dos exames  tradicionais

Por meio do aparelho Hilab, Hi Technologies quer levar telemedicina à França

Diretor de operações da startup, Carlos Eduardo Chaves disse que, além de serem levados a uma incubadora na capital francesa, os empreendedores conheceram diversas regiões no país para decidir onde seria melhor instalar o negócio.

Embora ainda não tenha decidido o local, Chaves garante que a startup está bem próxima de abrir sua operação na França. O foco da Hi Technologies será seu produto Hilab, serviço de telemedicina que realiza exames laboratoriais.

Israel

Conhecido como um dos maiores polos do empreendedorismo mundial, junto com os Estados Unidos, Israel conta com cases famosos de startups, como o aplicativo de navegação Waze e a desenvolvedora de tecnologias para carros autônomos Mobileye, vendida em 2017 para a Intel por mais de US$ 15 bilhões, maior venda de uma empresa nascente do país.

No entanto, o país também busca startups brasileiras. Embora o maior esforço não seja internacionalizar as companhias brasileiras,  Dori Goren, cônsul geral de Israel em São Paulo, explica que a Câmara apoia o comércio bilateral de forma geral.

Ele citou como exemplo a startup israelense OrCam. Em 2018, a Prefeitura de São Paulo adquiriu 15 dispositivos do produto MyEye, que proporciona mais acessibilidade e inclusão a  pessoas cegas ou com baixa visão. Os aparelhos foram distribuídos em bibliotecas públicas da capital paulista.

Além de ajudar as startups de ambos os países a fazer negócios com empresas locais, o Ministério das Relações Exteriores de Israel criou um programa no qual empreendedores de 30 países de todos os continentes podem se inscrever. O vencedor de cada local ganha uma viagem de uma semana pelo país, onde poderá participar de palestras, se conectar com investidores e visitar outras startups.

UpFish desenvolveu uma plataforma de inteligência para aquicultura; o equipamento permite a medição das variáveis da água utilizada nos processos de produção de peixes e camarões
A equipe da UpFish, vencedora do Start Jerusalém Brasil 2017

 

Realizada em São Paulo desde 2016 por meio do Consulado Geral de Israel em São Paulo, a iniciativa já premiou a startup carioca Menu for You, que foi até Tel Aviv, e em 2017 levou a equipe da UpFish, plataforma de inteligência para a aquicultura, para Jerusalém.

Canadá

O governo canadense incentiva durante o ano inteiro que empreendedores brasileiros vão para o país fazer negócios e/ou se internacionalizar. Já que cada uma das dez províncias tem bastante autonomia, há ainda incentivos específicos de acordo com a região onde se queira instalar o negócio.

De acordo com Tatiana Delgado, que trabalha para o governo do Canadá, o principal papel em nível federal é auxiliar os empreendedores a entrar no mercado local. Para isso, investidores, aceleradoras e incubadoras se conectam nesse projeto. Ao longo do ano, as startups apresentam seus projetos a esses players e, caso haja match, a empresa nascente se candidata a um visto especial e pode se instalar no Canadá.

Tatiana, que é brasileira, fica em São Paulo e recebe empreendedores o ano todo para auxiliar nesse processo. “Por um lado trabalho sabendo a demanda das companhias canadenses, do outro ajudo brasileiros a entender a melhor província para atuarem de acordo com sua tecnologia e explicamos o processo formal para a abertura da empresa.”

Tatiana Delgado recebe empreendedores todo ano e os auxilia no processo de internacionalização

Tatiana Delgado recebe empreendedores e os auxilia na internacionalização

Ela explica que nas várias regiões do Canadá são formados clusters de acordo com a tecnologia que cada província mais valoriza. No caso de Toronto, por exemplo, uma grande demanda é de fintechs. Os benefícios fiscais são diferentes nas regiões francófonas, como o Quebec. Ali há incentivo para os empreendedores que falam francês.

Em parceria com a Câmara de Comércio Brasil Canadá, são promovidas missões de curta duração focadas em determinado setor. Em setembro está marcada uma viagem com foco em inteligência artificial.

 


Fonte: DCI - Diário Comércio Indústria e Serviços
RAPHAEL FERREIRA • SÃO PAULO - Publicado em 16/08/18 às 10:00
Foto: DREAMSTIME